top of page
  • Foto do escritorLiuca Yonaha

Maternidade e (des)emprego

Atualizado: 29 de nov. de 2019


Pela primeira vez em seis meses, eu podia andar sem pressa de voltar para casa. Chovia, e eu me dei conta de que havia perdido meu guarda-chuva. Havia deixado no restaurante, na hora do almoço? No táxi do almoço para o exame? Na volta no shopping? Não consegui me lembrar. Odeio perder coisas e odeio ter buracos na memória. Mas estou aprendendo a conviver com isso desde que virei mãe.


Por exatos seis meses, os minutos eram cronometrados entre sair do trabalho e pegar o filho na creche. Se a chefe ligava de última hora para eu entrar numa reunião, já sabia que teria de correr, segurando a mochila para os potes de leite ordenhado não sacudirem tanto. Talvez descer do ônibus antes do ponto para vencer o congestionamento a pé.


No ônibus, olhava para as mulheres e pensava se eram mães. Imaginava que a maioria ainda teria uma longa viagem até chegar em casa. E pensava: “Como dão conta de tudo?” Eu, morando perto do trabalho, achava que não tivesse tempo de respirar!


Naquele dia chuvoso, respirei, caminhei devagar. Eu havia passado para o outro lado da estatística: quase metade das mulheres não está mais no mercado de trabalho 12 meses após o início da licença-maternidade, segundo pesquisa da FGV. Fui demitida no mês em que meu filho completou um ano.


Cheguei à creche para pegar o bebê com calma. Já não chovia.


Ao fim do dia, pensei no que havia perdido: o guarda-chuva. E agora estou aqui: na chuva para me molhar.


52 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page