top of page
  • Foto do escritorIsabela Kiesel

Uma mãe na volta ao trabalho - e a culpa

Atualizado: 22 de nov. de 2019

Nunca saí de casa sem me despedir da minha filha. Sigo à risca a orientação da pediatra desde cedo: "Sempre diga tchau e faça festa quando voltar pra casa pra ela saber que você vai embora, mas volta", repetia a médica. A receita deu certo. Júlia, hoje com um ano e meio, abana e manda beijo cada vez que tem que dizer tchau pra mamãe. Poucas vezes fechei a porta de casa com ela chorando. Mesmo assim, pra mim, mãe de primeira viagem, a cena é difícil. Desço o elevador com aquele sentimento inerente a muitas mães: a culpa.

E ela veio com mais intensidade quando retornei ao mercado de trabalho após a chegada da Júlia. Assim como a Liuca, engrossei as estatísticas de mães demitidas na volta da licença-maternidade. Não me pegou de surpresa. Pelo contrário, já esperava a conta diante da reestruturação pela qual a empresa passava. E, no fundo, era o que eu esperava e queria. Nos seis meses seguintes investi na Isabela mãe. Foi um período incrível, admito. Mas um semestre foi o suficiente para perceber que, sim, eu sentia falta do trabalho e estava na hora de voltar.

Coincidência ou não (ou sintonia, será?), a Liuca me chamou para ser sócia da Yki. Cá entre nós, sempre a admirei muito enquanto pessoa e profissional. Trabalhamos lado a lado, todos os dias, durante 7 anos (sem falar que engravidamos com dois meses de diferença). Nosso histórico de sucesso na parceria me fez aceitar o convite sem pensar muito (ok, isso é assunto pra outro post).

Até então, eu ensaiava a "culpa materna" em pequenas situações do dia a dia. Mas quando precisei me dividir entre maternidade e trabalho, o coração apertou. Como eu poderia me afastar da minha filha por horas? Como não a levaria para passear ou a colocaria para a soneca da tarde? E se não fosse eu a responsável por dar o almoço, seria eu uma mãe pior? Sem falar nas nossas tardes entre livros e brinquedos educativos que agora seriam mais raras. Mesmo trabalhando de casa, escondida no quarto, ouvindo-a brincar com a babá, é difícil aceitar que o computador é mais importante do que a minha filha naquele momento.

Foi justo trabalhando, escrevendo um texto para uma cliente, que senti uma dose de alívio. Uma pesquisa de Harvard mostrou que filhas de mães que trabalham fora costumam ter um melhor desempenho profissional no futuro. E que filhos de mães no mercado de trabalho se tornam adultos tão felizes quanto aqueles cujas mães se dedicaram inteiramente à maternidade. Não que eu acreditasse no contrário, mas quando há embasamento científico é sempre mais fácil de aceitar, não é mesmo? Vencer o sentimento de culpa é, literalmente, um trabalho diário.

72 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

コメント


bottom of page